sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Polifonia tradicional foi protagonista de «Encontro de Vozes», na igreja de Moldes


Evento pretendeu divulgar as particularidades do canto popular polifónico

A fotografia de grupo
A Igreja de Moldes acolheu, no passado sábado, dia 6 de Dezembro, o «Encontro de Vozes». O evento, organizado pelo Conjunto Etnográfico de Moldes, teve como protagonista a polifonia tradicional, e reuniu cinco grupos de cantadeiras que se apresentaram organizadas em contexto associativo ou de forma informal.
Pretendia-se, de acordo com a organização, que o encontro mostrasse a riqueza da cultura popular e a forma como o povo usa magistralmente os parcos recursos de que dispõe, neste caso, a voz. Pretendia-se, igualmente através das vozes, mostrar o vasto património imaterial que resultou da capacidade do povo de interpretar a sua própria realidade, resvalando entre o sagrado e o profano.
Grupo de Folclore Terras de Arões
O espectáculo iniciou-se com as cantadeiras do Conjunto Etnográfico de Moldes que, a duas e três vozes, entoaram cantos antiquíssimos de Arouca, falando de coisas simples com uma solenidade que ultrapassa qualquer singeleza lírica.
Seguiu-se um grupo informal, as Cantadeiras de Candal. Vindas do concelho de S. Pedro do Sul, de um lugar situado em plena Serra da Arada e Gralheira, as vozes destas mulheres deram a conhecer o património e as vivências que a sua aldeia, marcada pelo escuro da pedra das suas habitações, ainda guarda. Porque lhes sai da alma, mulheres marcadas pela aridez da vida serrana, cantaram com a facilidade, simplicidade e nobreza de quem não precisa de quaisquer ensaios para cantar bem, onde quer que seja.

Cantadeiras de Candal
Da freguesia de Arões (Vale de Cambra) chegaram as cantadas, cantarolas e cantigas, entoadas por cerca de quinze mulheres do Grupo de Folclore Terras de Arões. As melodias apresentadas no feminino mostraram-nos que mais não eram que as formas encontradas pelas mulheres de «antanho» para animar, e até aliviar, a labuta do dia-a-dia, suas canseiras, seus afazeres. 
Seguiram-se as cantadeiras de Souto Redondo (Urrô) que confirmaram a riqueza da polifonia do concelho de Arouca – um verdadeiro tesouro. Foram a revelação da noite, por se juntarem (quase) pela primeira vez para cantar num espectáculo desta natureza. Estas senhoras são a prova viva de que ainda é possível descobrir, nos dias de hoje, protagonistas de um saber que parece perdido. 
Cantadeiras de Souto Redondo
Encerrou o encontro o Grupo de Cantares Tradicionais Mulheres do Minho, de Braga, que deram a conhecer as especificidades polifónicas daquela região. 
Segundo a organização, o balanço é «bastante positivo porque cumpriu plenamente os objetivos estabelecidos para o evento». «A estrutura mista dada ao evento, conseguida com a presença de grupos organizados e grupos informais, conseguiu produzir um espetáculo com uma autenticidade e genuinidade muito evidente», afirmaram. Acrescentaram ainda que com este encontro se demonstrou, por um lado, «que a cultura popular tem ícones de uma beleza extraordinária – como é o caso da polifonia, mas, acima de tudo, que os grupos folclóricos, enquanto representantes da cultura popular, devem esforçar-se por mobilizar os verdadeiros agentes conhecedores e portadores de cultura popular para espectáculos como este».
Grupo de Cantares Tradicionais Mulheres do Minho
A primeira edição do «Encontro de Vozes», cujo objectivo foi divulgar as particularidades do canto popular polifónico, contou com o apoio da Câmara Municipal de Arouca, da Junta de Freguesia de Moldes, do Instituto Português do Desporto e Juventude e do Agrupamento de Escolas de Arouca. 

Fotografias de Luís Alexandre