quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Rancho de Moldes homenageia Fernando Miranda e apresenta novo trabalho discográfico

Falou-se do passado, do presente e dos desafios que se colocam no futuro. Homenageou-se o impulsionador do Conjunto Etnográfico de Moldes, pela dedicação inquestionável e liderança carismática do grupo, e apresentou-se o mais recente trabalho discográfico «A Serra a cantar e a dançar».

Professor Fernando Miranda e sua esposa, Maria do Carmo
Entrega das lembranças ao homenageado
O Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses assinalou sete décadas de trabalho ininterrupto numa sessão comemorativa que decorreu no passado sábado, dia 12 de Dezembro, na Loja Interactiva de Turismo de Arouca. Às cantas e cramóis de Moldes, que deram as boas-vindas aos presentes, seguiram-se os discursos de homenagem ao Professor Fernando Miranda – líder carismático e impulsionador do grupo nos anos 50 e 60.
“Pretendemos com esta sessão olhar para o passado, identificando e homenageando quem deu um largo contributo ao grupo. O professor Fernando Miranda é um homem que deu muito de si a uma causa que é de todos: a preservação da memória colectiva”, afirmou Ana Cristina Martins, vice-presidente do Conjunto Etnográfico de Moldes.
Intervenção da filha, Maria do Carmo
Intervenção de Arnaldo Pinho
Fernando Miranda assumiu a direcção do Rancho de Moldes em 1954, cerca de uma década após a sua fundação. Tinha apenas 18 anos. “De 1954 a 1977, o meu pai exerceu simultaneamente as funções de director artístico e presidente da direcção do Conjunto Etnográfico de Moldes. Um rancho que passou de um pequeno agrupamento folclórico que praticamente se limitava a cumprir a sua participação anual na Feira das Colheitas para um rancho com dimensão nacional, com participações regulares nos festivais mais importantes do país”, salientou a filha Maria do Carmo Miranda.
“O meu pai reuniu em si duas qualidades intrínsecas às dos líderes: inteligência e carácter. Teve sempre a insatisfação dos que querem fazer sempre mais e melhor, dos que sentem um enorme prazer intelectual em exercer o contraditório e transformar em superação o acabrunhamento pretendido pela má crítica”, enalteceu.
Amigo de longa data de Fernando Miranda, o padre Arnaldo Pinho também interveio, destacando a sua dedicação profunda, sentido ético e espírito consensual. “O Fernando deu um importante contributo à cultura popular regional que é extraordinariamente importante e é a única que resiste à passagem dos tempos”, realçou. “Esta é uma homenagem justa, porque é preciso homenagear quem luta e se dedica a uma causa”, afirmou.

Os feitos do passado e os desafios do futuro

Actuação do Conjunto Etnográfico de Moldes
Fundado em 1945, o Conjunto Etnográfico de Moldes tem vindo a realizar um trabalho significativo na defesa da cultura popular. “A história do Rancho de Moldes é longa e ansiamos que novos capítulos continuem a ser escritos. O grupo poderia acabar hoje que a sua história e o seu percurso jamais seriam igualados. Não só pela longevidade que os 70 anos representam, mas principalmente pelas mudanças estruturais que testemunhou e que foi superando”, argumentou Ana Cristina Martins, referindo-se à mudança da ditadura do Estado Novo para a democracia, à emergente necessidade de salvaguardar as identidades locais face a fenómenos como a globalização e às transformações da estrutura socioeconómica e cultural da sociedade portuguesa.
Sobre estas e outras transformações discursou Gomes Ferreira. O ex-dirigente do Conjunto Etnográfico de Moldes evocou os 70 anos do grupo, descrevendo os seus momentos mais marcantes. A passagem de uma participação pontual na Feira das Colheitas para a participação nos mais importantes festivais nacionais, o trabalho desenvolvido ao nível das cantas e dos cramóis, bem como a adopção do traje uniforme que hoje ostenta e que distingue Arouca ao largo e ao longe foram alguns dos temas abordados.
Intervenção de Gomes Ferreira
Gomes Ferreira destacou ainda o papel determinante do Conjunto Etnográfico de Moldes na fundação da Federação de Folclore Português e da Federação das Associações Juvenis do Distrito de Aveiro, a organização do primeiro festival de folclore que num curto período ganhou uma dimensão internacional e a publicação da revista Cultura Popular para assinalar os 40 anos do grupo.
“Com as primeiras Jornadas de Folclore de Arouca, em 1986, o mundo das universidades passa a interessar-se por Arouca, participando na actividade e debatendo o mundo rural. Em 1990, decide-se publicar os trabalhos resultantes dessas jornadas numa revista, a Rurália, que foi considerada, ao tempo, a mais importante publicação que reportava ao mundo rural”, referiu.
Em jeito de reflexão, Gomes Ferreira questionou: “Como se vai posicionar o Conjunto Etnográfico de Moldes face à crise do mundo rural, sobretudo numa freguesia com um acentuado envelhecimento da população?”. “Render-se? Não creio. Não faz parte da sua génese. Ao longo de setenta anos, soube gerir as crises e até fortalecer-se com elas. Agora não será diferente, estou certo. A freguesia é o berço do que o que no concelho melhor se faz, ao nível do folclore, da etnologia e da etnografia”, concluiu.

CD «A Serra a cantar e a dançar» é “legado para as gerações vindouras”

CD «A Serra a cantar e a dançar»
Na sessão comemorativa, o Conjunto Etnográfico de Moldes apresentou o seu mais recente trabalho discográfico, de nome «A Serra a cantar e a dançar». “Esta gravação assume um carácter de edição comemorativa dos 70 anos e o nome é uma alusão ao traço identitário que muito marca o folclore de Arouca – a identidade serrana”, explicou Ana Cristina Martins.
O CD é o volume 23 da colectânea Folclore Português, da editora Açor – Emiliano Toste Produções Multimédia, cujo elemento visual aglutinador é o azulejo. “A imagem de capa é um pormenor de um dos painéis da Sala do Capítulo do Mosteiro de Arouca”, explicou a representante da direcção.
Momento cultural com as Vozes de Manhouce
A Serra a cantar e a dançar é mais um legado do Rancho de Moldes. Um registo que se assume como um elo de ligação entre o passado e o futuro com vista à salvaguarda da identidade de um povo. Para que não seja esquecida a identidade de uma serra que sempre cantou e dançou com o brio e a nobreza que lhe são próprios”, concluiu. 
A actuação do Conjunto Etnográfico de Moldes encerrou a sessão comemorativa. As Vozes de Manhouce protagonizaram outro dos momentos culturais da noite.

Fotografias de Carlos Pinho

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