«Arouca Vista de Dentro» era o nome da coluna de Albano Ferreira publicada
durante vários anos no extinto jornal arouquense «Defesa de Arouca».
Pelo extraordinário valor etnográfico dos seus textos e pelo
inestimável contributo que deu ao Conjunto Etnográfico de Moldes vamos, neste
espaço, passar a transcrever os seus textos.
Para melhor conhecimento deste ilustre arouquense transcrevemos o
artigo de Alberto de Pinho Gonçalves dedicado a Albano Ferreira publicado no
jornal «Discurso
Directo» de 05-12-2014.
«Figuras
Arouquenses:
LIII –
Albano da Cunha Pinto Ferreira
Vulgarmente
conhecido como Albano Ferreira. Nasceu a 12 de Março de 1897, na Praça, Arouca.
Filho de Ernesto Pinto Ferreira e Maria Carolina da Cunha Alegria. Neto paterno
de José Ferreira de Oliveira, de Vila Nova, Burgo, e Maria Luísa da Conceição,
do Rio de Janeiro, Brasil; e materno de João de Oliveira e Cunha, de Ovar,
Chefe da Estação Telégrafo-Postal de Arouca, e Rita Ferreira Alegria, de
Oliveira de Azeméis. O seu pai exerceu a profissão de escrivão-notário de
Arouca.
Talvez a
convivência paterna tenha influído na profissão que teve de escrivão judicial,
em diversas comarcas do País, incluindo a de Arouca.
Esta sua
vivência com as populações, através da sua profissão, deu-lhe um conhecimento
extraordinário de todos os aspectos etnográficos e antropológicos da população
arouquense, que o apaixonaram toda a vida.
Por tal motivo esteve durante muitos anos ligado ao folclore arouquense, e de um modo especial, ao Conjunto Etnográfico de Moldes, de que foi seu grande divulgador, nomeadamente nos anos 60, do século passado, conseguindo, através do seu grande amigo, o poeta Pedro Homem de Melo, ir várias vezes à RTP, mostrar o nosso folclore.
Quem o quisesse ver zangado era falar mal do folclore e, de um modo especial, do Conjunto Etnográfico de Moldes.
Ainda
está na lembrança de muitos arouquenses, aquando da Feira das Colheitas, quando
subia ao tablado o grupo de Moldes, para a sua actuação, ia também o
«Albaninho» com a sua caixinha de cordões de ouro (pois ele tinha um grande
espólio de peças de ouro antigas), e por sua mão os colocava ao peito das
raparigas de Moldes, para a sua exibição. Pode dizer-se que era um «doente», no
bom sentido, de tudo o que dizia respeito aos costumes e tradições das gentes
de Arouca.
Essa sua
«doença» levou-o a escrever, durante muitos anos, na imprensa, principalmente
no jornal “Defesa de Arouca”, belos artigos que mostram as vivências dos arouquenses,
os seus usos e costumes, com uma prosa simples, objectiva e graciosa, que a
todos deliciava.
Não
resisto a contar uma passagem que se passou na minha presença, há muitos anos.
Trabalhava eu no dito jornal, onde ele colaborava, ainda sedeado na rua Dr.
Figueiredo Sobrinho (rua D´arca), num prédio hoje em ruínas.
Naquela
altura o jornal publicava uma secção denominada “Movimento Demográfico do
Concelho”. Ora sobre os casamentos a notícia era dada mais ou menos nestes
termos: fulano de tal, do lugar de tal, com fulana de tal, do lugar de tal, da
freguesia de tal. Coincidiu que num casamento da freguesia de Canelas, em que
há o lugar de Cima e o lugar de Baixo, saiu a notícia que dizia fulano de tal,
de Cima, com fulana de tal, de Baixo.
A
perspicácia do «Albaninho» levou-o para a brejeirice. E então dirigiu-se ao
jornal para adquirir um novo exemplar (talvez para guardar religiosamente...),
e com grande satisfação, ria-se do caso.
Não era
pessoa religiosa; mas tinha em muitos padres os seus grandes amigos. De um modo
geral tinha a simpatia de toda a gente, que o admirava e respeitava.
Era um
óptimo conversador. Matinha um diálogo correcto e interessante com todos. Casou
em 20 de Agosto de 1922, com Maria Helena Casimiro Leão Pimentel, natural da
cidade do Porto, de quem teve dois filhos, o Alfredo e o Rui Pimentel Ferreira,
creio que já ambos falecidos.
Faleceu
a 7 de Julho de 1978, na sua residência, na freguesia de Massarelos, Porto. A
notícia do seu falecimento, só chegou dias depois de ter acontecido, por sua
expressa vontade.»
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